Vivemos em um momento no qual as possibilidades de ser e
estar no mundo têm se tornado mais abrangentes do que alguns anos atrás. Em
meio a tantas possibilidades, nem sempre nossas características, valores e
necessidades são percebidos como estando em sintonia com o papel social que
desempenhamos, nos diferentes espaços que ocupamos (escola, casa, trabalho,
religião).
Tornar-se quem realmente se é, pode ser compreendido como uma
difícil missão em uma época em que o ser
confunde-se com o ter.
Em tempos de publicização do mundo privado, através das redes
sociais, ninguém quer mostrar seus fracassos, suas tristezas e seus desânimos,
afinal de contas, só existe um sentimento aceitável no facebook: a felicidade. Tristeza, inveja, culpa, insegurança, não
são aceitos socialmente. Incerteza só se for quanto à cor de um vestido. É feio
sentir; significa demonstrar “fraqueza” em um lugar onde só é possível ser
forte.
Certamente o desenvolvimento econômico está relacionado com
isso. Nunca antes se produziu tanto. Nunca antes se consumiu tanto. Somos
levados a consumir coisas novas e nunca a consertar as antigas. É mais fácil. É
mais barato. O problema é que estamos mercantilizando nossa própria identidade.
Trocamos de roupa para atender a expectativa do outro; nos
tornamos frios e exigentes para garantir produtividade na empresa; descartamos
nossos próprios sentimentos, tal qual fazemos com as mercadorias e, cada vez mais,
temos menos paciência para esperar a mudança ou a adaptação do outro.
As relações duram menos; os amigos confiáveis são poucos; os
divórcios são constantes. Nosso sistema de defesa aprendeu rápido que nessa era
de incertezas e nessa nova velocidade (e duração) das relações, nós precisamos
ser igualmente velozes. Nesse sentido, um perfume oferece amor que um namorado
precisa ou um carro garante o respeito necessário a um homem. O dinheiro passa
a comprar a identidade.
O desafio é tornar-se consciente de seus processos, aceitando
suas limitações e buscando, com autonomia, construir relações sólidas e
duradouras. A referência para nos tornarmos quem realmente somos não deve ser
externa, mas buscada constantemente, diariamente em nossas necessidades, nos
valores que escolhemos viver e nas características que desenvolvemos para
estarmos mais disponíveis para ser feliz.
(Siebert, 2015)
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