quarta-feira, 4 de março de 2015

A difícil missão de nos tornarmos quem somos



Vivemos em um momento no qual as possibilidades de ser e estar no mundo têm se tornado mais abrangentes do que alguns anos atrás. Em meio a tantas possibilidades, nem sempre nossas características, valores e necessidades são percebidos como estando em sintonia com o papel social que desempenhamos, nos diferentes espaços que ocupamos (escola, casa, trabalho, religião). 

Tornar-se quem realmente se é, pode ser compreendido como uma difícil missão em uma época em que o ser confunde-se com o ter.

Em tempos de publicização do mundo privado, através das redes sociais, ninguém quer mostrar seus fracassos, suas tristezas e seus desânimos, afinal de contas, só existe um sentimento aceitável no facebook: a felicidade. Tristeza, inveja, culpa, insegurança, não são aceitos socialmente. Incerteza só se for quanto à cor de um vestido. É feio sentir; significa demonstrar “fraqueza” em um lugar onde só é possível ser forte.





Certamente o desenvolvimento econômico está relacionado com isso. Nunca antes se produziu tanto. Nunca antes se consumiu tanto. Somos levados a consumir coisas novas e nunca a consertar as antigas. É mais fácil. É mais barato. O problema é que estamos mercantilizando nossa própria identidade. 

Trocamos de roupa para atender a expectativa do outro; nos tornamos frios e exigentes para garantir produtividade na empresa; descartamos nossos próprios sentimentos, tal qual fazemos com as mercadorias e, cada vez mais, temos menos paciência para esperar a mudança ou a adaptação do outro. 

As relações duram menos; os amigos confiáveis são poucos; os divórcios são constantes. Nosso sistema de defesa aprendeu rápido que nessa era de incertezas e nessa nova velocidade (e duração) das relações, nós precisamos ser igualmente velozes. Nesse sentido, um perfume oferece amor que um namorado precisa ou um carro garante o respeito necessário a um homem. O dinheiro passa a comprar a identidade. 

O desafio é tornar-se consciente de seus processos, aceitando suas limitações e buscando, com autonomia, construir relações sólidas e duradouras. A referência para nos tornarmos quem realmente somos não deve ser externa, mas buscada constantemente, diariamente em nossas necessidades, nos valores que escolhemos viver e nas características que desenvolvemos para estarmos mais disponíveis para ser feliz.

(Siebert, 2015)

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