quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Vai deixar para 2015?



Final de ano chegou e podemos nos assustar com o quão corrido foram os 364 dias atrás.

Culturalmente, dezembro tem representado o mês da retrospectiva, mês de fechar o balanço anual das condições financeiras, da qualidade dos relacionamentos amorosos, da intensidade da fé, dos quilos na balança e do quão feliz somos, verdadeiramente, após mais um ano.

Costumo perguntar às pessoas que conheço quais são seus planos para o futuro. É comum eu ouvir: comprar uma casa, comprar um carro, casar, ter filhos, começar uma faculdade...

E logo em seguida eu questiono: você quer comprar uma casa, por quê?
“Para não pagar aluguel”.
 E por que não pagar aluguel?
“Para sobrar mais dinheiro no final do mês”.
E por que você precisa que sobre mais dinheiro no final do mês?
“Para eu fazer as coisas que eu gosto”.
E do que você gosta?
“Ficar perto dos meus amigos, da minha família”
É isso que te faz feliz?
“Sim”.

É pensando em respostas muito semelhantes a essa que eu quero diferenciar felicidade de alegria.

Somos levados a acreditar que as nossas necessidades (especialmente às materiais) devem ser atendidas de forma imediata. Nós estamos sendo criados, pela maneira como a nossa economia e a nossa política se organiza, a acreditar sempre precisamos de mais. Muitos teóricos da psicologia, da filosofia e da sociologia já abordaram esse tema, isso não é uma novidade, o ser humano é movido pela busca da satisfação de seus desejos.  Mas a intensidade e a urgência que isso acontece pode nos fazer desperdiçar o aqui e agora, com aquilo que nos faz feliz.

Trocamos de relógio, compramos roupas novas, queremos viajar e conhecer pessoas novas para ser feliz. Vivemos em busca da felicidade. Mas às vezes confundimos felicidade com alegria. Trocar de relógio e de carro muitas vezes me deixa alegre, mas não me faz feliz plenamente, porque passa muito rápido.  A necessidade de ter um modelo novo de celular é urgente, porque estão sendo oferecidas novas possibilidades o tempo todo.

Será que sabemos responder a pergunta: o que me faz feliz?

É o que eu convido a todos a pensar neste encerramento de ano. O que me fez feliz ao longo de todo esse tempo? Será que até mesmo os momentos de tristeza que eu vivi me dá a oportunidade de ser feliz hoje? O que me faz sentir alegria e o que me faz feliz?

2014 foi fechado para balanço e 2015 está se abrindo para a oportunidade de ser planejado e vivido com amor, com vida. 

Você vai deixar pra ser feliz em 2015?

domingo, 21 de dezembro de 2014

Você me ama? - Uma conversa sobre pedir carinho





Lá em casa meus pais sempre tiveram o hábito de perguntar a mim e minha irmã “você me ama?”, e de vez em quando a brincadeira se estendia num termômetro de sentimento: “quanto?”, sem dar muita margem para a resposta: “muito, ou pouco?”. 

A verdade é que a brincadeira servia para que cada um de nós ouvíssemos de quem queríamos o quanto o amor estava presente naquela relação. 

Hoje eu ainda carrego essas perguntas para outros relacionamentos meus, em busca de garantir a nutrição da minha alma. Afinal de contas, não é só o corpo que se alimenta.

Para além de respostas “sim, claro que eu te amo”, como se dizer isso fosse óbvio e fácil, algumas vezes abraços e beijos vem de brinde e uma verdadeira troca de afetos acontece.

Acredito que estamos precisando pedir mais carinho e amor uns aos outros. Vivemos acreditando que o “óbvio” está claro e, portanto, não precisa ser dito. Mas mesmo o que parece óbvio precisa ser reforçado. Está óbvio para quem?

Ninguém existe sem amor. Nenhuma criança crescerá totalmente saudável se não se sentir amparada, acolhida, amada. Mas não é sempre que o ambiente estará preparado para nos dar amor. É ai que entra nossa autonomia de correr atrás dele.

“Mas não será vergonhoso pedir algo tão íntimo? A iniciativa não tem que partir da outra pessoa? Eu não estou forçando a barra para que me amem e me aceitem? Se eles me amassem de verdade, já teriam falado”.

Nós perdemos muitas oportunidades de dar e receber carinho por medo, vergonha, por adiar o inadiável “depois eu falo”, por não nos sentirmos preparados para desfrutar a intimidade de um relacionamento, por falta de tempo, por não termos aprendido a dar e receber carinho. 

Amar dá trabalho. É preciso se conhecer e estar disponível à mudança. E é preciso aceitar o outro com sua forma de pensar e sentir diferentes de nós. Isso é um exercício eterno.

Muitas vezes só você poderá dizer que está precisando de cafunés, abraços, beijos, bilhetes carinhos, surpresas agradáveis, uma boa hora de conversa.

Portanto, de agora em diante está permitido pedir carinho.

Está permitido dar carinho.

Está permitido receber carinho.

Está permitido viver relações mais próximas, mais saudáveis e mais felizes!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Por que existem tantas farmácias? Estamos mais doentes ou mais tristes?

Toma esse remedinho que passa
Passa dor de dente
Passa dor de cabeça
Só não pode passar pela cabeça que até dor de cotovelo ele faz passar!



Silva, Piano e Hunsche realizaram uma pesquisa em 2013 nos prontuários de adolescentes entre 12 e 18 anos que passaram pelo atendimento psicoterapêutico entre os anos de 1988 e 2010 no Rio Grande do Sul em uma clínica escola. Eles identificaram um cenário crescente na medicação desses pacientes ao longo dos 12 anos anteriores, o aumento contabilizou em 44,8%, um número altíssimo para um curto período de tempo.

O que aconteceu durante esses doze anos que justifica esse aumento? Novos remédios foram desenvolvido? Remédios mais eficientes entraram no mercado? Eles ficaram mais baratos e por isso venderam mais? A medicina evoluiu? Ou mudamos a maneira pela qual consumimos os remédios?

Sem dúvida tivemos um grande salto na medicina nas últimas décadas, tendo desenvolvido tratamentos muito eficazes para o bem estar do ser humano. Durante esse tempo, a medicina, a farmácia, a bioquímica e outras tantas áreas se debruçaram no estudo de tratamentos cada vez mais eficazes para as doenças, buscando aliviar dores, promover a qualidade de vida, bem como prolongar a vida das pessoas. Por outro lado, o uso dos medicamentos passou a ocupar outros espaços em nossas vidas, sendo consumidos para aliviar dores não-orgânicas.

Eis o motivo pelo qual escrevo este texto: propor uma reflexão sobre a diferença entre a medicação e a medicalização.

Quando falamos em medicação, nos referimos a um tratamento biológico, necessário para a cura de determinada doença que se manifesta no organismo do sujeito. Um exemplo de medicação acontece quando contraímos um vírus da dengue, ou uma infecção de garganta. Nesse casos, sob a recomendação médica, iniciamos um tratamento químico para reabilitar nossa saúde.

De forma diferente, o processo de medicalização acontece quando passamos a fazer uso de medicamentos para curar dores não-físicas. Estou falando do uso de remédios nos momentos em que estes fazem o papel rápido e eficiente de fuga do real problema a ser enfrentado. Diante das mais adversas situações da vida, o sujeito se depara com questões angustiantes e busca, com imediatismo, sanar seus sofrimentos com comprimidos práticos e acessíveis. Afinal, torna-se mais fácil “dormir para o dia passar logo” ou colocar a culpa em um sintoma físico para não ser necessário falar de sentimentos de vergonha, medo, tristeza...

Não há remédios químicos para curar relações desrespeitosas. Não há rivotril que impeça a dor de briga entre o casal. Não há sibutramina que faça manter os 15 quilos perdidos em uma semana. Não há relaxante muscular que te livre do estresse após um mês cheio de frustrações no trabalho. Não há remédios químicos para curar amores imperfeitos, palavras mal colocadas, ou a falta de limites dos pais em relação aos seus filhos. Para isso há um processo diferente de tomada de consciência e mudança de comportamento, que muitas vezes pode ser facilitado com a psicoterapia.

Esquecemos que viver é também sentir tristeza, é lidar com rejeição, é aprender a lidar com as frustrações. Esquecemos disso porque somos cobrados a todo momento que estejamos felizes, “bem resolvidos”, bonitos e sorridentes. Precisamos refletir o quanto o uso de medicamentos retrata uma intolerância àquilo que é diferente. Ou seja, ao nos apresentarmos destoante daquilo que a sociedade espera (feliz, magro, bem sucedido), estamos saindo do que é concebido como a normalidade e devemos nos curar com o método mais rápido.




Vamos pensar... qual é o interesse de uma farmácia, ou de uma indústria farmacêutica em vender seus remédios? Muito além de uma solução para os seus problemas (físicos, psicológicos e sociais) o remédio é um produto, e um produto muito lucrativo! Se toda empresa busca expandir seus negócios, com a indústria farmacêutica não seria diferente.

Por isso que devemos nos atentar aos diagnósticos pouco cuidadosos, bem como às nossas próprias automedicações desenfreadas e sem orientação profissional. Essas posturas denunciam fugas em lidar com o que há de mais incômodo em nosso jeito de ser. Mente e corpo mantêm-se conectados a todo o momento, por isso precisamos estar também conectados a essa ideia.


(Siebert, 2014)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Ideal do Eu e as Redes Sociais estão em um relacionamento sério


Parecer-se legítimo e singular hoje é uma questão de sobrevivência diante de uma cultura que abriga os mais diferentes grupos em um mesmo espaço. Como podemos nos tornar quem realmente somos em um mundo em que as referências e modelos estão cada vez mais inalcançáveis?

Eis a questão...

Ao mesmo tempo em que temos um grande incentivo à singularidade através das redes sociais, ou seja, somos convidados a todo momento a nos tornar quem realmente somos contando nosso cotidiano, nossas rotinas, demonstrando os laços afetivos que nos são próximos e partilhando os sentimentos daquele momento, há, por outro lado, um filtro que permite apenas a exposição do que é belo, bonito e espontâneo nesse meio, tudo perfeitamente (e contraditoriamente) editável. Dentro desse contexto, nossas fotos podem ser tratadas para realçar cores e formas, uma frase mal colocada pode ser reescrita e um post criticado por terceiros pode ser excluído sem deixar vestígios. É possível manipular a imagem que se pretende passar.

Proponho que pensemos, nesse sentido, na produção de uma identidade coletiva, uma vez que a rede permite específicas formas de expressão. O que quero dizer é que há uma massificação dessas identidades que impede o aparecimento do que há de mais específico em cada um de nós. Há um objetivo maior nessa ação: eu exponho minha individualidade, acompanho a de outras pessoas e elas acompanham a minha, para que nos tornemos pertencentes a um grupo, tudo isso de maneira selecionada.

Será que nesse meio ninguém se sente sozinho, triste, feio ou excluído de um grupo? No facebook ninguém tem problemas com os pais, ou ficou de recuperação em uma matéria da escola? Será que é feio passar por algum desses sentimentos? Por que somos incentivados a editar fotos em passeios com dias ensolarados, nas viagens ao exterior, cheios de companhias agradáveis e sorridentes?

Eu penso em algumas hipóteses...

Queremos cumprir com as expectativas de um pensamento coletivo de que a vida é sinônimo de beleza, reconhecimento, poder e riqueza. Dessa maneira, quanto mais likes você conquistar em uma foto, mais reconhecimento você possui perante ao seu meio social. Tudo isso com apenas um click. Um click que também diz de uma sociedade que procura prazeres e mudanças imediatistas.

Acontece que o reconhecimento virtual pode não dizer de um reconhecimento presencial, ao vivo e a cores, recheados de imprevistos e exigentes em espontaneidade. Ao transportar as expectativas criadas através das redes para o ambiente social, corremos o risco de viver uma fantasia e, diante das adversidades da vida, podemos não suportar as frustrações decorrentes do obvio, do real.

Não pretendo nesse texto incentivar que os leitores excluam suas redes sociais ou que passem a expor publicamente aquilo que há de mais íntimo em suas vivências pessoais. Ao contrário disso, procuro provocar reflexões acerca daquilo que curtimos e compartilhamos a todo momento nesses espaços, pensando que essas ações também dizem de quem somos, daquilo que acreditamos e daquilo que reforçamos em nós e nos outros.

Proponho o uso de uma ferramenta que gere potência positiva no encontro de pessoas através de uma tecnologia fácil e acessível em abrangência mundial. Proponho ainda, um encontro coerente entre daquilo que criamos virtualmente e o que nossas atitudes e posturas dizem de nós pessoalmente.

(Siebert, 2014)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A mulher e seus caminhos na maternidade




Todos os dias de manhã, especialmente aos sábados quando fugíamos da correria da semana, tomávamos café da manhã juntas. Aquele cheiro de café com leite sempre me lembrou minha mãe, nos incentivando a comer antes das 10h para não dispensar o almoço que viria sempre entre meio dia e meio dia e meia. As vezes que a vovó Candinha ia lá pra casa, eu ficava me perguntando como elas podiam se parecer tanto e ao mesmo tempo ser tão diferentes. Bisavó Maria (que gostava de ser chamada de vovó véia) trabalhou toda a sua vida para educar os filhos e cuidar da casa, vovó Candinha aprendeu com ela todos os dotes culinários e cuidou dos 8 filhos trabalhando dentro e fora de casa. Minha mãe acompanhou o ritmo, trabalhou para ajudar os irmãos e depois para cuidar das duas filhas que vieram. O pão de queijo da minha mãe (que me perdoe ela) não é tão fofinho como o da minha vó, e eu e minha irmã nem pão de queijo sabemos fazer. Vivo me perguntando que caminhos a família Garcia ainda seguirá nos próximos anos com a nova geração...

Se colocarmos nós quatro eu, mãe, vó e bisa em uma roda de conversa, o que teríamos a dizer umas às outras? Vindas de épocas diferentes, esse encontro de valores e gerações talvez não nos levem a muitos consensos. Mas a história está traçada ao longo desse tempo e os papéis que assumo hoje, sem dúvida dizem do meio em que fui criada, do jeito materno que cada uma delas encontrou para me educar.

As mudanças ocorridas ao longo dos últimos cem anos, especialmente em relação às mulheres, foram rápidas e interviram diretamente da dinâmica familiar. Essas mudanças dizem respeito à revolução sexual ocorrida na segunda metade do século 20, acompanhadas por uma explosão de tecnologias, o fácil a acesso a informação através da internet, a grande lotação demográfica nas cidades e, especialmente, a inserção da mulher no mercado de trabalho.

Um importante marco histórico para a época foi a comercialização da pílula anticoncepcional que deu à mulher o direito de escolha sobre o seu próprio corpo - sua liberdade sexual-  colocando em cheque o poder de decisão do homem dentro da família tradicional. A partir desse momento, a mulher pode escolher quantos filhos iria ter, controlandoplanejando com maior segurança sua maternidade. 

Apesar de ser um pouco ignorada, essa liberdade sexual foi um fator determinante para que a mulher conquistasse também a liberdade para conquistar outros espaços, como o mercado de trabalho. No entanto, como toda conquista, esta também trouxe consigo certos desafios. Mulheres como minha avó e minha mãe, que mergulharam no mercado de trabalho nesse período de transição, foram chamadas de mães-ausentes, vistas como não suficientemente boas por não dar atenção aos seus filhos em prol da carreira profissional.

Esse pensamento fez com que muitas mulheres se sentissem culpadas, como se o trabalho as impedisse de prover a seus filhos todos os fenômenos, a sensibilidade e os cuidados necessários para um bom desenvolvimento. Todavia, antes de legitimar essa culpa, é preciso considerar que, por se tratar de um evento revolucionário, a questão da ausência da mulher no lar para o cuidado dos filhos foi (e ainda é) cercada de falsas fantasias que precisam ser olhadas com cuidado. 

Temos que considerar o fato de que, junto com a inserção da mulher no mercado de trabalho, outras mudanças sociais e culturais ocorreram, dando suporte para que a educação dos filhos fosse uma responsabilidade de múltiplos atores. Com o passar do tempo a quantidade de filhos por casal diminuiu e a atenção que antes teria que ser dividida entre  8... 12... 14... filhos, tornou-se uma atenção dividida para 2... 3... filhos. O que faz com que o estereótipo de ''mãe- ausente'' seja atenuado. 

A marca da maternidade hoje é: um filho quando eu quiser, se eu quiser. A mulher, preocupada com a ascensão profissional e com o padrão de beleza que quer manter, adia a maternidade. Para aquelas que cogitam não ter filhos, apesar de ser mais comum que em alguns anos atrás, ainda são vistas através de olhos assustados e desconfiados.

Dentro de toda essa nova realidade, a mulher que divide seu tempo entre a família, o trabalho e seus cuidados pessoais, precisa ''chamar'' o homem para dentro de casa. Com isso, o papel dele também mudou. Estar fora garantindo sustento, ter sucesso no emprego, ser bem visto socialmente ou trazer dinheiro para a família já não é suficiente, é preciso que ele participe das responsabilidades dentro da casa, que ame seus filhos, que a ame, que esteja presente, que os apoie.
As escolas também ganharam espaço importante, nesse contexto. Ao frequentar creches cada vez mais cedo, as crianças passaram a receber os estímulos que recebiam em casa nas escolas infantis e creches. Nesses espaços tiveram condições de entrar em contato com outras crianças, aprender regras, brincar e garantir um desenvolvimento saudável assim como os cuidados da mãe.


Apesar de tantas mudanças no modo de lidar com o novo contexto social, a noção de família continua sendo (em grande parte) “o lugar onde se dá sem esperar nada em troca”, “o meu tudo”, “meu refúgio, porto seguro”, mas sua dinâmica já não é mais a mesma. A maneira como o “porto-seguro” se organiza e afeta os diferentes agentes que o compõe, mudou e continua em constante mudança Como disse  Diana Lichtenstein Corso em sua palestra no programa Café filosófico da cpfl Cultura “Na vida contemporânea é o amor que legitima as coisas quando a tradição nos falta”.

domingo, 13 de abril de 2014

Socorro! Querem me levar num psicólogo!



Imagine uma situação em que você está procurando um objeto em sua casa e não consegue encontrá-lo. Já procurou nos quartos, guarda-roupas, bolsas e em cima dos móveis, em nenhum dos lugares consegue localizá-lo. De repente outra pessoa aparece e vê que o objeto procurado está do lado da televisão na sala de estar, local que você passou pelo menos duas vezes e não o viu. O que acontece?

Essa semana me encaminharam uma pessoa para acolhimento e ao recebê-la, antes mesmo de ter a oportunidade de perguntar seu nome, ela me advertiu: “Olha eu não sou doida, eu não preciso de um psicólogo e posso resolver meus problemas sozinha como sempre fiz”. Surpresa, sorri e respondi: “Que ótimo! É por isso que estou aqui. Quer entrar?”.

O assunto psicoterapia é algo que deixa muitas pessoas de cabelo em pé. Os estigmas sociais que a profissão ainda carrega muitas vezes dizem de crenças distorcidas sobre o papel do psicólogo: “Como vou explicar para os meus amigos que agora eu vou num psicólogo?”; “Psicólogo é coisa de doido”; “Dançar é a melhor terapia que posso ter”; “Pra que pagar um psicólogo? Eu posso te escutar por um preço muito mais barato!”; “Todo psicólogo é meio doido, não é?”.

Bom, nem sempre... A apreensão sentida diante da avaliação de um exame de direção, ou uma prova do vestibular, a tristeza por uma briga com o namorado, a desmotivação com o trabalho, a angústia em escolher uma profissão ou a raiva por um castigo dos pais não são coisas de outro mundo, mas podem impedir a harmonia e o bem estar de uma pessoa, prejudicando outras tomadas de decisão. Acredito que ir ao psicólogo não é a solução para todos os nossos problemas, nem deve ser um procedimento para a vida toda, mas frequentar a psicoterapia pode ser mais produtivo do que algumas pessoas pensam.

O papel do terapeuta é trabalhar a autonomia do sujeito de forma que ele assuma a responsabilidade pelas mudanças que provoca ou quer provocar em sua vida. Nesse processo, o profissional, munido com seus conhecimentos sobre a formação da personalidade, os processos de aprendizagem e as características do desenvolvimento humano, procurará provocar a ampliação do seu olhar sobre uma situação que hoje você não consegue ter clareza por estar imerso em sentimentos que inviabilizam uma visão abrangente do momento.

De maneira similar ao objeto perdido, porem um tanto mais complexa, nos vemos diante de situações em que não conseguimos enxergar aquilo que nos está próximo. Mergulhados em sentimentos de angústia, medo, raiva, vergonha ou culpa somos incapazes de perceber aquilo que está ao nosso redor. Por mais simples que pareça aos olhos de terceiros, provocar mudanças de comportamento não é uma tarefa fácil. Mudar é um processo que exige paciência, tempo, acolhimento e motivação e papel do psicólogo, nesse sentido, é acompanhar essas mudanças, oferecendo ferramentas que possam ampliar os conhecimentos sobre si e sobre o contexto do qual o sujeito está inserido.

Portanto, não se preocupe se alguém falar que você precisa de um psicólogo. Talvez a intenção desta sugestão seja para que você perceba seu momento de um ângulo diferente, amparado por uma pessoa que se formou para ajudar outras pessoas a se tornarem quem elas realmente querem ser.

(Siebert, 2014)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Jogos eletrônicos e educação, uma parceria possível?

Os jogos eletrônicos tem se tornado um recurso de entretenimento cada vez mais popular no Brasil e no mundo, afinal esse é um mercado muito interessante para se investir já que hoje os jogos estão não só nos tradicionais vídeo games, mas nas Tvs, redes sociais e smartphones. Interessante mesmo são os recursos cada vez mais sofisticados para prender a atenção do público (nós). E é difícil encontrar alguém que já não foi fisgado por essa distração (Quem nunca procurou se distrair em uma fila de banco jogando candy crush sweet?).
A grande questão que os estudiosos tem se colocado é: os jogos contribuem ou dificultam a educação?
Há controvérsias...
Autores como Moita (2007), Ramos e Caetano (2008), Greenfield, (1988), Kruger e Cruz (2001) acreditam que os jogos eletrônicos são grande potenciais para o aprendizado, uma vez que oferece situações de desafio ao jogador exigindo dele competências como observação, associação, escolha, julgamento, emissão de impressões, classificação, estabelecimento de relações e autonomia. Em determinados jogos, o esforço individual ou coletivo é significante para a resolução de conflitos, o que permite que o jogador vivencie diferentes papéis nos dinâmicos cenários criados (apud FERREIRA, 2010).
Nessa linha de raciocínio, o uso de jogos eletrônicos estaria relacionado com a maior facilidade de aprendizado, o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras, e, consequentemente a melhora na capacidade de orientação espacial. A Universia lançou no mês passado uma reportagem em seu site seguindo essa ideia. De acordo com eles, os games estarão mais presentes na educação nos próximos anos e as escolas precisarão se adaptar.

Por outro lado, autores como Utz (2000), Yee (2006), Bailenson e Yee (2008) e Fang et al. (2009) defendem que os jogos podem ser prejudiciais ao aprendizado. Ele analisa o game como uma forma de libertação ou fuga das características de personalidade do jogador, como a timidez e a introspecção, por exemplo. Nesse sentido, o campo virtual é visto de forma mais interessante e menos ameaçadora quando comparada com a vida real, fazendo com que as pessoas se afastem do contato social para viver um mundo onde é possível manipular estágios de evolução (fases) e realizar pausas quando for necessário.
Diferentemente do contato físico (direto e constrangedor), os games simulam cenários que possibilita ao jogador "ser ele mesmo" ou "ser o personagem que quiser criar" sem que se sinta coagido socialmente. Segundo os autores, isso faria com que cada vez mais as pessoas se isolem e diminuam suas habilidades sociais: “Por que viver a realidade lidando com os conflitos do dia a dia se o cenário que eu crio é mais justo, bonito, interessante e criativo?” (apud FERREIRA, 2010).
Todos esses questões estão deixando pais e professores de cabelo em pé, muitas vezes sem saber o que fazer.
Acredito que os jogos eletrônicos podem sim promover a socialização e desenvolver uma série de habilidades nas pessoas, mas devemos estar atentos a forma como ele será usado. É necessário observar qual é o significado do game para uma pessoa, diferenciando um momento de lazer de uma relação de dependência.
A educação pode se beneficiar muito com a metodologia interativa, dinâmica e moderna dos jogos, buscando estimular a imaginação, a criatividade, o trabalho em equipe. Dentro dos cenários criados, cada vez mais próximos da realidade, podemos promover a educação de crianças, jovens e adultos estimulando-os a lidar com as frustrações, a enfrentar grandes desafios e a ter empatia com as pessoas. Dessa forma, os meios de se promover novos conhecimentos ganham criatividade distanciando do padrão de aprendizado com quadro e giz.
Os jogos, assim como tantas outras tecnologias, mudaram nosso ritmo de vida de tal forma que não conseguiremos deixar de utiliza-los (basta se imaginar sem celular, um utensilio que há quinze anos atrás não nos fazia tanta falta como faz hoje). No entanto, precisamos utilizar todos esses novos conhecimentos a nosso favor. Podemos agregar os games em nosso cotidiano sem que caracterizá-los pelo isolamento ou vício de comportamento, por exemplo, basta utilizá-los de forma consciente.
  (Siebert, 2014)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mais ou Menos



Somos todos mais ou menos bonitos, 
mais ou menos maduros, 
mais ou menos adaptáveis e 
mais ou menos abertos a viver felizes. 
Viver é essa coisa mais ou menos compreensível e é preciso ter cuidado ao comprar a ideia de que devemos querer sempre o melhor, 
e que sempre devemos estar felizes,
e que nunca poderemos aceitar injustiças.
 Nunca e sempre são simples por demais para uma vida que é, na verdade, 
mais ou menos um pouco da realidade de cada um.
Às vezes mais de um.
Às vezes menos de mim.
Às vezes, mais ou menos de nós.
Partimos de uma visão de que diz muito de quem somos e de onde viemos. 
Caminhos mais ou menos fáceis que nos levam à caminhos mais ou menos sem volta. 
Todos lindos, a partir de um olhar que é próprio, o meu.

(Siebert, 2013)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

E agora José?

E agora José?

Um mundo de escolhas...

Ao pensar nas escolhas do passado com a cabeça do presente, corremos o risco de negligenciar todo o processo de amadurecimento. Hoje existe um novo eu aqui. Mais velho, mais experiente e, por isso, mais sábio. Ser profeta do acontecido é muito fácil! Os fatos estão dados e a dúvida se extingue, “mas e se eu tivesse escolhido aquele outro sabor?”. Difícil mesmo é lidar com as duras perdas que as escolhas necessariamente trazem.

Essa falta de resposta
 é a que angustia e gera dúvida. E para o “se” que passou, não se tem respostas mais. Talvez o melhor mesmo seja formular outro tipo de pergunta.


Escolher é uma ação constante e exigente. Tomar consciência de si, das mensagens incorporadas desde criança, ter conhecimento das possibilidades, se permitir traçar outro plano de vida é abrir-se para uma nova escolha. Uma nova escolha exigente. Uma nova escolha que exige perdas também, perda daquilo que é seguro, conhecido e confortável. Por outro lado, não se abrir a essa transformação também é escolha, e também implica em perdas. Perda da oportunidade de fazer diferente com todo o conhecimento conquistado até aqui.


É preciso lembrar que assim como escolher, amadurecer também é um processo constante. Na medida em que o tempo passa e as experiências nos presenteiam, vamos nos tornando mais ou menos preparados para reconhecer os recursos que hoje nos faz ser quem somos. Por vezes, tomar decisão parece fácil e tranquilo. Já outras, demandam energia, dúvidas e angústias. É nesse sentido que acredito que escolher também é um ato de coragem. 


Existem maneiras para tornar essas opções mais leves, penso eu. Tornando-nos conscientes de que existem melhores alternativas, para certos momentos, em um dado contexto. Nunca estaremos prontos. Nunca uma escolha é 100% segura, não temos o controle do cosmo. Nunca teremos certeza absoluta das respostas do “E se?”. A vida não é um fluxograma. E esta é a chave da questão. 


Estar consciente de uma escolha é trabalhar com possibilidades, com a realidade que necessariamente é limitante. É também lidar com informações de si e do mundo que ampliam olhar e geram criatividade. É a coragem para duvidar daquilo que dizem ser o melhor para mim, é ter especialmente a coragem de errar e acreditar que refazer escolhas também é possível.


“E agora José?
Você marcha, José!
José, pra onde?”
[Drummond]

(Siebert, 2013)