quinta-feira, 30 de julho de 2015

Como lidar com a sua timidez



A timidez está fazendo parte do seu dia a dia lhe impedindo de aproveitar situações boas como sair com uma pessoa nova, dançar em uma festa e namorar aquela(e) garota(o) que você está afim? Não lhe faltam motivos para se sentir frustrado e cansado desses comportamentos, afinal, a timidez pode dificultar não só o estabelecimento de relações novas, mas também a conquista de um novo emprego ou a promoção de um cargo melhor no seu trabalho.

Entendemos a timidez como uma ansiedade intensa que uma pessoa, na maioria das vezes, enfrenta diante de situações sociais onde tenha que apresentar desempenho diante de outras pessoas, podendo levar ao sofrimento e perdas de oportunidades importantes como defender uma ideia em público, dizer não para aquilo que não quer fazer ou paquerar alguém interessante. Uma pessoa tímida geralmente sente medo de fazer ou dizer coisas que lhe sejam percebidas como humilhantes e embaraçosas, demonstrando uma sensibilidade maior às críticas, pois construiu uma autoimagem negativa a respeito de si mesmo.

Boa parte dessa visão negativa a respeito de si, diz respeito a uma crença fantasiosa de ter sempre que causar uma boa impressão para ser aceito pelas pessoas ou por si próprio, ou seja, há uma auto cobrança excessiva de um desempenho perfeito para que, dessa forma, seja provado para si e para os outros o seu valor como pessoa.




Para lidar melhor com esses sentimentos de vergonha de si mesmo, há algumas medidas que podem ser tomadas para superar esses comportamentos, mas afirmo que todas essas medidas devem ser olhadas sob a forma de um processo de melhora de qualidade de vida, por isso necessita de tempo, coragem e desejo de mudança.

1. Procure se amar, mesmo que a timidez seja uma característica que não lhe agrade.
Aceitar suas características, por mais incômodas que elas lhe sejam hoje, é o primeiro passo para trabalhar uma autoimagem positiva. Aceitar-se não significa que você não pode mudar seus comportamentos, aceitar-se significa se amar em primeiro lugar, independente das falhas que apresenta. Você aceita suas dificuldades atuais reconhecendo que tem potência para fazer delas aspectos mais positivos para sua vida.

2. Aprenda a lidar com a frustração de não poder agradar todo mundo.
Há um ciclo interessante que pode acometer as pessoas tímidas. O sentimento de insegurança sobre suas competências pessoais geram o impulso de que, para ser aceito em um grupo, deve-se fazer de tudo para agradar a outra pessoa. É fácil entrar, nestes casos, em uma compulsão por “ser agradável”, tornando uma situação extremamente frustrante quando uma crítica lhe é direcionada.

É necessário lidar com a angústia de não conseguir agradar todas as pessoas ao seu redor e de não conseguir controlar o pensamento de outras pessoas. Por mais que você acredite, elas nem sempre estão pensando mal de você e se estiverem será importante que você aprenda a lidar com isso para que não seja manipulado pelo desejo do outro. Ao aceitar esse fato fundamental, será mais fácil se dar permissão para dizer não às pessoas.

3. Faça atividades que lhe ajude expressar.
As artes são boas aliadas nesse processo, seja ela a dança, o teatro, a pintura ou qualquer outra técnica. Elas lhe permitirão expressar sentimentos e pensamentos de uma maneira lúdica e estética, ajudando-o a enfrentar seus medos.

4. Faça psicoterapia.
A psicoterapia é um processo de autoconhecimento que lhe permitirá ter maiores informações sobre o processo de construção de você mesmo, bem como dos recursos que já possui hoje que lhe ajudam a colocar em prática as mudanças que você busca para a sua vida. O psicólogo é um profissional capacitado que lhe auxiliará com ferramentas importantes nesse processo de enfrentamento da timidez.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Você está ensinando seu filho a ser tímido?

Para responder a essa pergunta é importante que pensemos a timidez como algo especialmente construído no ambiente em que a criança se encontra, ou seja, a timidez é um comportamento aprendido, muitas vezes imitado, copiado. Isso não significa desconsiderar a carga genética que todos nós carregamos, mas compreender que ela será manifestada dentro de um ambiente familiar, social, escolar...

Você já presenciou seu filho ou sua filha repetindo as mesmas palavras que você, quando ele/ela brincava com algum colega ou com as bonecas? Esse é um comportamento comum nas crianças e nos remete a uma identificação que elas possuem com uma figura de autoridade importante na vida delas; um processo que é considerado essencial para o desenvolvimento das crianças.
 

Tendo isso em consideração, podemos questionar se características como ser mais retraído, introvertido e calado também são aspectos passados de geração para geração através da forma de comportamento que encontramos no âmbito familiar daquela criança. Ou seja, a criança presencia um comportamento de um adulto do qual admira (timidez) e reproduz esse mesmo comportamento em seu dia a dia.
 

Dessa forma, pais que têm medo de falar em público podem transmitir aos seus filhos a crença de que a expressão de ideias frente a muitas pessoas é ameaçadora e deve ser evitada. Da mesma forma, se esses pais se sentem inseguros em relação à sua autoimagem podem transmitir à criança a ideia de insegurança sobre suas características pessoais.

É importante ressaltar que não estamos falando em uma equação matemática em que a identidade da criança é exatamente igual a dos seus pais. Ao contrário, a criança pode encontrar outros recursos para lidar com o ambiente a sua volta. No entanto, queremos ressaltar a importância dos pais fazerem uma análise de suas próprias condutas para compreender a maneira como a criança percebe e lida com o meio em que está inserida.
 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Dicas para se preparar para o vestibular- parte II



Pensando nos desafios que vestibular nos coloca, continuamos com algumas dicas para estar mais preparado para este momento.

EVITE PENSAR NO SEU COLEGA
“A grama do vizinho parece sempre ser mais verdinha que a nossa”; mas esqueça isso; não é possível ter conhecimento da totalidade do processo do outro; você é especialista em você mesmo. Por isso, concentre-se no seu tempo, na sua prova e nos seus sentimentos. Se o colega do lado já terminou a prova e agora que você chegou à metade, procure compreender que cada um tem tempo e necessidade diferentes.

CUIDE DA ALIMENTAÇÃO
Procure  alimentar-se bem nos dias anteriores à prova; evite alimentos pesados e desconhecidos e prefira frutas e verduras; essas atitudes podem interferir  positivamente  no seu sono, e na sua concentração.

PARA QUESTÕES DIFÍCEIS, MONTE UMA ESTRATÉGIA
Caso se depare com uma questão difícil, evite registrar a dúvida nas alternativas; ao contrário, registre-a na questão como um todo, isso poderá ampliar o seu raciocínio no retorno da resolução. Outra dica importante é que, ao ler a questão, antes de partir para as alternativas, você resgate em sua memória aquilo que lembra sobre o assunto. Muitas vezes o tema abordado é do seu conhecimento e, após esse resgate mental, ao partir para a questão, você deverá apenas reconhecer qual a alternativa traz as informações mais próximas daquilo que você sabe ser o correto.



ENUNCIADO GENÉRICO, RESPOSTA GENÉRICA. ENUNCIADO ESPECÍFICO, RESPOSTA ESPECÍFICA
É comum que, ao construir uma questão, o autor traga um enunciado genérico e uma alternativa específica. Esteja atento a isso! Enunciado genérico exige uma resposta genérica. E enunciado específico exige uma resposta específica.

DURMA BEM NA NOITE ANTERIOR
Uma boa noite de sono é uma excelente aliada , pois  ajuda a manter a concentração no momento da prova. No dia anterior, procure estar perto de quem te apoia nesse momento; evite estudar – você já estudou o que deveria –; agora, é um momento de descansar para estar mais preparado.

USE A IMAGINAÇÃO
Nós temos uma tendência de fazer melhor aquilo que fazemos mais vezes, porque o conhecimento daquilo que é um hábito para nós, nos dá um sentimento maior de segurança. Neste sentido, a imaginação pode ser uma grande aliada. Durante o seu período de preparação para o vestibular, reserve tempo para se imaginar antes, durante e depois da prova. Faça uma imagem mental de toda a sua preparação para o dia, detalhes sobre sua trajetória, as pessoas que encontrou, os sentimentos e pensamentos que surgiram, o que comeu, como dormiu, a percepção que tem do resultado que alcançou, etc.
Ao repetir diversas vezes esse mesmo processo, você vai perceber que a cada exercício os sentimentos e os pensamentos, em relação a essa experiência mudam, pois a atividade te traz informações sobre você e suas reações perante o vestibular. Esse é o momento de descontaminar os pensamentos catastróficos e pessimistas, dando permissão para a realização de uma prova com tranquilidade. Quanto mais você exerce sua atividade de se imaginar no dia do vestibular, a tendência é que mais próximo você fique desta realidade e mais seguro você se sinta.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Dicas para se preparar para o vestibular - parte I


Antes de falar especificamente sobre as dicas, façamos uma reflexão: a preparação para o vestibular é algo que nunca estará pronta e acabada; ela é um processo contínuo.
Não há fórmula mágica de preparação para um momento como o vestibular. O ideal é adaptar as dicas apresentadas a seguir à sua rotina, compreendendo que cada realidade é única e que faz parte desse processo reconhecer e acatar aquilo que lhe for confortável.

ABRA MÃO DE SER PERFEITO
O vestibular não foi feito para você acertar todas as questões. Não queria dar respostas perfeitas, pois o perfeccionismo pode te levar ao atraso e ao descontrole do tempo. 
 
FAÇA UM PLANEJAMENTO DE COMO A PROVA SERÁ RESPONDIDA
A sequência proposta pelo caderno de questões não necessariamente deve ser respondida em ordem. Temos a tendência de respondermos à questões em ordem, pois é assim que estudamos, normalmente. No entanto, para o vestibular, escolha as disciplinas que você tem mais conhecimento para serem feitas primeiro; assim, você tem mais chances de “garantir” aquelas questões que realmente sabe.


  
APRENDA A RESPIRAR
Minha experiência tem demonstrado que muitas pessoas têm preconceito com exercícios de respiração. Mas acredite, funciona. Quando estamos diante de uma situação de estresse, nosso corpo se prepara para a fuga ou para a luta. Fisiologicamente isso quer dizer que o coração se acelera, a respiração fica ofegante e suamos. Tudo isso em busca de nos defender daquilo que nos ameaça; o vestibular, por exemplo.
Quando aprendemos a realizar exercícios de respiração, aumentamos nossa consciência corporal e conseguimos ter mais controle sobre nosso corpo e, consequentemente, sobre nossos sentimentos. Se você conseguir acalmar a sua respiração, o seu corpo entenderá que a ameaça externa foi reduzida, ou extinta. Por todas essas questões, respirar torna-se uma ferramenta muito potente.
O Catraca Livre publicou um artigo superinteressante para o início de um treinamento de respiração. Minha dica é que você o repita pelo menos três vezes por dia, na semana que antecede à prova; isso poderá lhe ajudar a ter uma prática maior com a sua respiração. Confira: https://catracalivre.com.br/geral/rede/indicacao/um-truque-para-acalmar/

EM CASO DE INCOMPREENSÃO DO ENUNCIADO, CRIE ESTRATÉGIAS
Não é incomum ler o enunciado de uma questão e não entender nada. Muitos paralisam-se diante de uma situação assim, releem o mesmo trecho de forma exaustiva ou ficam fixados esperando uma “ajuda divina”. O primeiro passo para esses casos é destacar o comando da questão “explique, analise, cite...”. Destacar datas e referências a nomes também pode ajudá-lo a situar-se no momento histórico referido. Outro passo é definir qual a natureza do assunto questionado.

ALGUMAS QUESTÕES TRAZEM MAIS DE UMA ALTERNATIVA CERTA
Diante de um assunto específico, uma questão pode trazer duas ou até mais afirmações que contenham informações corretas sobre o assunto. Tenha cuidado com isso! As informações podem estar corretas, mas não respondem diretamente ao comando que foi dado no enunciado.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Eu, o vestibular e a minha ansiedade



Para muitas pessoas, vestibular tem tudo a ver com ansiedade; é só pensar no grande dia que surge logo um friozinho na barriga.

Isso acontece porque depois de um longo período de estudos, marcados por pressões internas e externas e conteúdos extensos, chega a hora de colocar no gabarito “tudo” o que você sabe.  É nesse momento que surge o questionamento: o que eu sei, afinal de contas?

Responder a essa pergunta pode gerar grandes expectativas que vêm acompanhadas de medos: e se eu não passar? O que vão pensar de mim?

É neste sentido que o vestibular torna-se, socialmente, o dia de provar para os pais, para os amigos e para si mesmo o quão preparado cognitiva e psicologicamente se está para enfrentar essa avaliação. A relação entre o estudante e o vestibular pode ser tão marcante que “ser gente”, nesse momento, se confunde com passar ou não no vestibular; ou seja, a percepção social pode se configurar de forma que se você passar você é digno, respeitado, tem autoestima alta e é inteligente; se você não passar, é todo fracassado.


 
Mas é muito importante compreender que o vestibular não é a sua vida; não pode ser. Ele é parte da sua vida; é uma etapa marcante e importante, mas não é tudo o que você tem ou que você é. O vestibular não consegue avaliar todo o conteúdo que você sabe, nem mesmo toda a qualidade de raciocínio que você possui, porque ele é um instrumento de avaliação limitado. Ele é apenas um recorte de conteúdos e esse pequeno recorte desconsidera outros tantos fatores da sua vida: família, estado emocional, histórico escolar, cultura, condição socioeconômica, etc.

Portanto, o primeiro passo para lidar com a ansiedade que o vestibular gera é colocá-lo do tamanho que ele é; sem subestimá-lo ou torná-lo uma tempestade incontrolável. Para além de uma prova de português, matemática ou física, existe você com seus medos e anseios; com suas vitórias e fracassos; com sua história e sua individualidade e tudo isso deve ser levado em consideração.




domingo, 5 de abril de 2015

Eu, eu mesmo e minha ansiedade


Num mundo com tanta correria e urgência por emprego, profissionalização e felicidade, a ansiedade parece ser a melhor amiga do homem. Queremos que as férias cheguem logo, que os filhos cresçam e sejam menos dependentes, que aquela apresentação em público passe rápido, que a faculdade enfim termine.

Esses pensamentos nos levam ao futuro diretamente, caracterizando nosso estado ansioso. Ansiedade, portanto, é uma pré-ocupação com o que poderá acontecer, e é nesse contexto que tentamos responder as questões: “e se eu não conseguir?”; “e se eles não gostarem de mim?”; “e se eu não passar na prova?”. O “Se” é uma tentativa de adivinhar o futuro e a falta de controle sobre esses acontecimentos pode gerar apreensão, nervosismo, agonia.

Não é raro pensarmos a ansiedade como um estado psicológico prejudicial à saúde. Mas é importante ressaltar aqui que nem todo estado ansioso é negativo ou se remete a um transtorno. Ao contrário, a ansiedade pode ser uma boa aliada no nosso dia a dia.

Como assim aliada? Nossos ancestrais sobreviveram por desenvolverem um estado ansioso (aqui também usado como sinônimo de estresse). Diante de um perigo, o corpo, através de suas manifestações fisiológicas (taquicardia, respiração ofegante, tremor, tensão muscular), preparava o homem para fuga ou para luta. Em poucos segundos ele deveria avaliar o futuro e tomar a melhor decisão, no presente, para se proteger de um animal feroz, por exemplo.




Milhões de anos se passaram e as nossas ameaças hoje são bem diferentes de nossos ancestrais. Hoje nos sentimos em perigo para falar em público, mudar de cidade, ter contato com pessoas desconhecidas, fazer vestibular ou ir para uma entrevista de emprego.  No entanto, a herança fisiológica que carregamos ainda se assemelha àquele tempo: suamos frio, temos taquicardia, tensão muscular, etc., reações que também nos preparam para luta ou fuga. É neste sentido que podemos considerar a ansiedade como aliada ao nosso dia a dia, pois trata-se de uma defesa do organismo.

Então quando é que poderemos dizer que a ansiedade se tornará algo prejudicial? Digo-lhe que entre muitos fatores, a sua interpretação dos sintomas é algo essencial para essa definição. Uma pessoa que não perceba seu estado ansioso como algo que gera sofrimento, não terá sentido para pensar em um tratamento.

Por outro lado, um excesso de ansiedade pode levar algumas pessoas a se paralisarem fisicamente e psicologicamente diante da vida, nesse sentido, podem evitam contato com as pessoas, desistir de enfrentar situações que lhe colocam em desafio, deixar de tomar algumas decisões.  Essas paralisações são consequências de preocupações exagerados com saúde, dinheiro, família ou trabalho; sensação contínua de que algo muito ruim vai acontecer; medo extremo de algo específico (barata, escuro, falar em público); medo exagerado de ser humilhado na frente de outras pessoas; pouco controle sobre pensamentos repetitivos e constantes. Estamos falando nesses casos de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade Generalizada e Síndrome do Pânico.


É importante fazer essa diferenciação para que olhar para esses sintomas seja feito com melhor clareza. No próximo texto falaremos um pouco melhor sobre a ansiedade trazendo alguns recursos para trabalhar no tratamento dela. Não deixe de ler!

domingo, 22 de março de 2015

Sentimentos proibidos



Está liberado sentir inveja, ciúmes e arrependimento!

Isso mesmo! Está liberado sentir inveja, da mesma forma que está liberado sentir ciúmes, arrependimento, orgulho, angústia e qualquer outro sentimento aparentemente proibido.

Foram poucas as vezes que eu presenciei pessoas assumindo sentimentos como esses. Socialmente, são sentimentos vergonhosos que podem ser percebidos como uma expressão de imaturidade, de fraqueza e até mesmo de submissão. Mas ora, vergonha, imaturidade, fraqueza e submissão não é justamente consequência de não aceitar seus próprios sentimentos?

Quando digo que está liberado sentir inveja, digo que está liberado SENTIR. Somos ensinados, constantemente, a não olhar para nossos sentimentos, como se eles fossem prejudiciais à racionalidade humana. Sentir é, muitas vezes, colocado em um nível de insanidade, como se entrar em contato com os sentimentos deixasse uma pessoa menos racional.

Digo a vocês justamente o contrário. Quanto mais negamos nossos sentimentos, menos conhecemos de nós mesmos e menos informações temos para decidir, para agir, para nos posicionarmos diante do outro. Negar nossos sentimentos, especialmente aqueles que nos causam mais vergonha, não nos ajuda a manipulá-los, ao contrário, torna-os desconhecidos (mas não desaparecidos).


Na verdade, quanto menos sentimos, mais sentimos. Quero dizer que quanto menos validamos nossos sentimentos, mais damos interpretações erradas para eles. Quando não queremos olhar para um sentimento passamos a adequá-lo a uma forma socialmente mais aceita. E assim, é fácil ficar com raiva, por sentir raiva. Demonstrar tristeza, por sentir ciúmes. Demonstrar arrogância, por sentir-se frágil. Sentir medo, por sentir desejo. Sentir culpa, por sentir inveja, correndo o risco de nunca saber o que de fato se sente.

Cá entre nós, todo mundo sente inveja, em maior ou menor grau. Mas é “feio” reconhecer isso. Você pode ser visto como limitado ou incapaz, por querer algo que o outro tem. No entanto, o sentimento de desejo pelo o que o outro é ou tem gera também referências para o que escolhemos ser em nossas vidas. Somos seres sociais e somos convidados a sentir inveja a todo o momento em busca de conforto, status, relacionamentos saudáveis e outras tantas coisas. Reconhecer esse sentimento ajudará você a conhecer mais de si mesmo e de seus desejos.

Outra questão importante que quero destacar é sobre o sentimento de arrependimento. Tenho percebido que se arrepender tornou-se uma verdadeira demonstração de fragilidade. No discurso de que toda experiência gera crescimento, arrepender-se é proibido, porque tudo é válido. Bobagem! Nem toda experiência nos gera crescimento e está tudo bem em arrepender-se de uma escolha que não foi a melhor. Às vezes uma pessoa pode estar arrependida de algo que fez, mas não se permite assumir isso, porque é assumir que errou. Será que estamos nos dando permissão de errar?

O ciúme é outro sentimento que não tem tido muita aceitação social, afinal, se você sente ciúmes, logo demonstrará que está envolvido afetivamente com o parceiro (e Deus me livre se ele perceber isso, não é?). Ao fugir desse sentimento, corremos o risco de fugir também da entrega para um relacionamento mais íntimo. Se sentir ciúmes é ter medo de que a pessoa com a qual eu me relaciono goste mais de uma terceira pessoa do que de mim, o que isso diz de mim?

O problema não é sentir inveja, arrependimento ou ciúmes. O problema é ignorá-los como se fossem sentimentos menores ou sentimentos proibidos. O sentimento faz parte do nosso dia a dia assim como nossos pensamentos, mas somos levados a hierarquizar essa lógica colocando o pensamento como superior, sem questionar por que isso acontece.

Reconhecer os sentimentos vivenciados, compreender suas reações ao senti-los e analisar o contexto em que eles geralmente aparecem pode se tornar uma deliciosa aventura sobre conhecer a si mesmo. Ficará mais fácil modificar alguns comportamentos que o incomodam se você reconhecer as emoções que se passam por trás disso.

Por isso, está decretado: está permitido sentir.

Ps. A título de curiosidade, segue a definição de cada um desses sentimentos, de acordo com o dicionário Aurélio.
Ciúme: 1 Receio ou despeito de certos afetos alheios não serem exclusivamente para nós. 2 Inveja. 3 Receio. 4. Sentimento doloroso causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada; zelos. 5. Angústia provocada por sentimento exacerbado de posse.
Inveja: 1 Desgosto pelo bem alheio. 2 Desejo de possuir o que outro tem (acompanhado de ódio pelo possuidor). 3 não ter inveja a:  não ser somenos; não ficar atrás de.
Arrependimento: 1 Sentir mágoa ou pesar por alguma coisa feita ou dita ou não feita ou não dita. 2 Mudar de intenção ou de ideia. 3 Desdizer-se. 4 Mudar de aspecto.