Está liberado sentir inveja, ciúmes e arrependimento!
Isso mesmo! Está liberado sentir inveja, da mesma forma que
está liberado sentir ciúmes, arrependimento, orgulho, angústia e qualquer outro
sentimento aparentemente proibido.
Foram poucas as vezes que eu presenciei pessoas assumindo
sentimentos como esses. Socialmente, são sentimentos vergonhosos que podem ser
percebidos como uma expressão de imaturidade, de fraqueza e até mesmo de submissão.
Mas ora, vergonha, imaturidade, fraqueza e submissão não é justamente
consequência de não aceitar seus próprios sentimentos?
Quando digo que está liberado sentir inveja, digo que está
liberado SENTIR. Somos ensinados, constantemente, a não olhar para nossos
sentimentos, como se eles fossem prejudiciais à racionalidade humana. Sentir é,
muitas vezes, colocado em um nível de insanidade, como se entrar em contato com
os sentimentos deixasse uma pessoa menos racional.
Digo a vocês justamente o contrário. Quanto mais negamos
nossos sentimentos, menos conhecemos de nós mesmos e menos informações temos
para decidir, para agir, para nos posicionarmos diante do outro. Negar nossos
sentimentos, especialmente aqueles que nos causam mais vergonha, não nos ajuda
a manipulá-los, ao contrário, torna-os desconhecidos (mas não desaparecidos).
Na verdade, quanto menos sentimos, mais sentimos. Quero dizer
que quanto menos validamos nossos sentimentos, mais damos interpretações erradas
para eles. Quando não queremos olhar para um sentimento passamos a adequá-lo a
uma forma socialmente mais aceita. E assim, é fácil ficar com raiva, por sentir
raiva. Demonstrar tristeza, por sentir ciúmes. Demonstrar arrogância, por sentir-se
frágil. Sentir medo, por sentir desejo. Sentir culpa, por sentir inveja,
correndo o risco de nunca saber o que de fato se sente.
Cá entre nós, todo mundo sente inveja, em maior ou menor grau. Mas é “feio” reconhecer isso. Você
pode ser visto como limitado ou incapaz, por querer algo que o outro tem. No
entanto, o sentimento de desejo pelo o que o outro é ou tem gera também referências
para o que escolhemos ser em nossas vidas. Somos seres sociais e somos
convidados a sentir inveja a todo o momento em busca de conforto, status,
relacionamentos saudáveis e outras tantas coisas. Reconhecer esse sentimento
ajudará você a conhecer mais de si mesmo e de seus desejos.
Outra questão importante que quero destacar é sobre o
sentimento de arrependimento. Tenho
percebido que se arrepender tornou-se uma verdadeira demonstração de
fragilidade. No discurso de que toda experiência gera crescimento,
arrepender-se é proibido, porque tudo é válido. Bobagem! Nem toda experiência
nos gera crescimento e está tudo bem em arrepender-se de uma escolha que não
foi a melhor. Às vezes uma pessoa pode estar arrependida de algo que fez, mas
não se permite assumir isso, porque é assumir que errou. Será que estamos nos
dando permissão de errar?
O ciúme é outro
sentimento que não tem tido muita aceitação social, afinal, se você sente ciúmes,
logo demonstrará que está envolvido afetivamente com o parceiro (e Deus me
livre se ele perceber isso, não é?). Ao fugir desse sentimento, corremos o
risco de fugir também da entrega para um relacionamento mais íntimo. Se sentir
ciúmes é ter medo de que a pessoa com a qual eu me relaciono goste mais de uma
terceira pessoa do que de mim, o que isso
diz de mim?
O problema não é sentir inveja, arrependimento ou ciúmes. O
problema é ignorá-los como se fossem sentimentos menores ou sentimentos
proibidos. O sentimento faz parte do nosso dia a dia assim como nossos
pensamentos, mas somos levados a hierarquizar essa lógica colocando o
pensamento como superior, sem questionar por que isso acontece.
Reconhecer os sentimentos vivenciados, compreender suas
reações ao senti-los e analisar o contexto em que eles geralmente aparecem pode
se tornar uma deliciosa aventura sobre conhecer a si mesmo. Ficará mais fácil
modificar alguns comportamentos que o incomodam se você reconhecer as emoções
que se passam por trás disso.
Por isso, está decretado: está permitido sentir.
Ps. A título de curiosidade, segue a definição de cada um
desses sentimentos, de acordo com o dicionário Aurélio.
Ciúme: 1 Receio ou despeito de certos afetos alheios não
serem exclusivamente para nós. 2 Inveja. 3 Receio. 4. Sentimento doloroso
causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada; zelos. 5. Angústia provocada
por sentimento exacerbado de posse.
Inveja: 1 Desgosto pelo bem alheio. 2 Desejo de possuir o que
outro tem (acompanhado de ódio pelo possuidor). 3 não ter inveja a: não ser somenos; não ficar atrás de.
Arrependimento: 1 Sentir mágoa ou pesar por alguma coisa
feita ou dita ou não feita ou não dita. 2 Mudar de intenção ou de ideia. 3 Desdizer-se.
4 Mudar de aspecto.