quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Ideal do Eu e as Redes Sociais estão em um relacionamento sério


Parecer-se legítimo e singular hoje é uma questão de sobrevivência diante de uma cultura que abriga os mais diferentes grupos em um mesmo espaço. Como podemos nos tornar quem realmente somos em um mundo em que as referências e modelos estão cada vez mais inalcançáveis?

Eis a questão...

Ao mesmo tempo em que temos um grande incentivo à singularidade através das redes sociais, ou seja, somos convidados a todo momento a nos tornar quem realmente somos contando nosso cotidiano, nossas rotinas, demonstrando os laços afetivos que nos são próximos e partilhando os sentimentos daquele momento, há, por outro lado, um filtro que permite apenas a exposição do que é belo, bonito e espontâneo nesse meio, tudo perfeitamente (e contraditoriamente) editável. Dentro desse contexto, nossas fotos podem ser tratadas para realçar cores e formas, uma frase mal colocada pode ser reescrita e um post criticado por terceiros pode ser excluído sem deixar vestígios. É possível manipular a imagem que se pretende passar.

Proponho que pensemos, nesse sentido, na produção de uma identidade coletiva, uma vez que a rede permite específicas formas de expressão. O que quero dizer é que há uma massificação dessas identidades que impede o aparecimento do que há de mais específico em cada um de nós. Há um objetivo maior nessa ação: eu exponho minha individualidade, acompanho a de outras pessoas e elas acompanham a minha, para que nos tornemos pertencentes a um grupo, tudo isso de maneira selecionada.

Será que nesse meio ninguém se sente sozinho, triste, feio ou excluído de um grupo? No facebook ninguém tem problemas com os pais, ou ficou de recuperação em uma matéria da escola? Será que é feio passar por algum desses sentimentos? Por que somos incentivados a editar fotos em passeios com dias ensolarados, nas viagens ao exterior, cheios de companhias agradáveis e sorridentes?

Eu penso em algumas hipóteses...

Queremos cumprir com as expectativas de um pensamento coletivo de que a vida é sinônimo de beleza, reconhecimento, poder e riqueza. Dessa maneira, quanto mais likes você conquistar em uma foto, mais reconhecimento você possui perante ao seu meio social. Tudo isso com apenas um click. Um click que também diz de uma sociedade que procura prazeres e mudanças imediatistas.

Acontece que o reconhecimento virtual pode não dizer de um reconhecimento presencial, ao vivo e a cores, recheados de imprevistos e exigentes em espontaneidade. Ao transportar as expectativas criadas através das redes para o ambiente social, corremos o risco de viver uma fantasia e, diante das adversidades da vida, podemos não suportar as frustrações decorrentes do obvio, do real.

Não pretendo nesse texto incentivar que os leitores excluam suas redes sociais ou que passem a expor publicamente aquilo que há de mais íntimo em suas vivências pessoais. Ao contrário disso, procuro provocar reflexões acerca daquilo que curtimos e compartilhamos a todo momento nesses espaços, pensando que essas ações também dizem de quem somos, daquilo que acreditamos e daquilo que reforçamos em nós e nos outros.

Proponho o uso de uma ferramenta que gere potência positiva no encontro de pessoas através de uma tecnologia fácil e acessível em abrangência mundial. Proponho ainda, um encontro coerente entre daquilo que criamos virtualmente e o que nossas atitudes e posturas dizem de nós pessoalmente.

(Siebert, 2014)

Nenhum comentário:

Postar um comentário